domingo, 28 de junho de 2009

Cena - escola livre de teatro

Sobre as coisas não absolutas da vida

MARCELO - Cá estou eu. Feliz e sozinho nesse quarto vazio de hotel. Não que isso não me agrade de certa forma, mas é tudo tão paradoxal. Sempre que eu estava em meu quarto, na casa da tia Aurora, estava tenso, a espera do próximo problema, do próximo encontro, das indagações dela. Esta calmaria é também melancólica, distante da euforia do dia-a-dia, degustando o que essa viagem me traz de bom. De bom. Eu, aqui e ela lá aguardando meu retorno.
RUBRICA - Arrasta-se ainda medianamente animado para a mesa do restaurante, prepara-se para uma refeição completamente só, em um ambiente privado, só ele, a comida e as cadeiras vazias, a cabeça fermentando coisas. Já sentado, comendo, lhe vem a imagem da tia sentada à mesa, como se ela estivesse ali mesmo, ele pode vê-la, sente o peso da sua presença, o desconforto, [como é a indiferença dela? como ela mastiga, o que ela diz? ela faz uma voz de choro forçado sempre que fala da irmã morta há tantos anos e da culpa junto com a responsabilidade de ter que cuidar de mim,]
Ele passa a comer mais rápido, como quando ela principia a falar da irmã, da mãe, da vizinha, sempre como anúncio do que virá depois.
MARCELO - Sempre aquele assunto do qual tanto fujo, fujo de mim e, portanto, fugia dela e de tudo.
RUBRICA - Cuidado e preconceito numa dança quase que histérica.
MARCELO - Tal qual aquela tarde em que ela entrou em meu quarto e me avistou pela primeira vez com sinais de um querer cuidar que simplesmente não cabia aos meninos.
TIA - O que você esta fazendo ai embaixo, menino?MARCELO - Nada não tia!TIA - Como nada? Então por que está se escondendo?
Vamos...me dê isso. Senão você já sabe o que vai te acontecer!!RUBRICA - Atônito entrega uma boneca de pano para a tia.
TIA - Então era isso!? Eu já não te disse que eu não quero te ver brincando com boneca? De quem é essa boneca, menino?MENINO - É da filha da D. Judite...(E eu gostava tanto daquela boneca.)MULHER - Eu não acredito que você pegou a boneca da filha da empregada pra brincar!!MENINO - Mas ela deixou..
RUBRICA – Como quem diz isso acreditando ser esse um problema ético(o fato de ter pego algo que não lhe pertencia)
MARCELO - Ela sempre me empresta, eu não peguei sem ela saber e minha mãe nunca brigou...
RUBRICA – A tia, numa histeria silenciosa.MULHER – Sua mãe está morta, Marcelo.
RUBRICA – Numa mescla de raiva e compaixão pelo menino. Como quem de fato acredita que a questão é que simplesmente tem brinquedos de meninos e outros, de meninas. Simplesmente, não tinha registro.
TIA – Marcelo, olha só. Pegue aqui esse carrinho. Esse sim é brinquedo de menino.
MARCELO – Mas por que?
TIA – Porque é Marcelo, porque é.
RUBRICA – De volta à realidade do restaurante do hotel, ele engole porções ainda maiores como quem quer deglutir tal história, ela emenda a costumeira segunda parte sobre os sobrinhos da vizinha, os outros netos da mãe, o namorado de fulana, ele não tem pressa nos gestos, mas a comida desce o mais rápido possível, ela fala de cada um destes moços, de como são bonzinhos, bem sucedidos, exemplares, de como saem com belas garotas .Ele costuma pensar que sua deglutição é uma dança para aqueles acordes que estouram da garganta da velha, ela capricha no timbre quando o interlocutor é alguém importante (qualquer um que não seja a vizinha ou a mãe, ou a empregada), e sempre que o timbre melhora o sobrinho espera pela patada, pelo desprezo, por qualquer coisa pior do que a rotina já bastante ruim, e é sob um agudo crescente daquela voz estridente que ele vai se paralisando à mesa, perguntando-se:
MARCELO: Como "ela pode estar aqui, agora"?
RUBRICA - Derrotado ele observa a comida desmoronar lentamente de cima do garfo estacionado à altura do queixo, como areia que escorre na ampulheta, cada garfada de arroz desgraçadamente branco, vai paralisando o tempo, o tempo de tudo, tempo da vida, da alegria, do sonho, do projeto...paralisando...só não paralisa o medo, o medo paralisante. Marcelo, paralisado, revisita uma das situações vivenciadas na adolescência.
MARCELO - Tia, tô saindo, mas volto pro jantar.TIA- Vai aonde?MARCELO - Encontrar uns amigos.TIA - Sei... E o Jonas é um deles?! Esse garoto vive grudado em você.Já te disse que não gosto dele e não suporto essa amizade de vocês.MARCELO - Ele é meu...
TIA- (interrompendo) O que é isso na sua orelha?
MARCELO - Isso o quê? TIA - (espantanda) UM BRINCO!!!MARCELO- Tia...TIA- Quem te deixou furar a orelha? Quantas vezes eu vou ter que repetir que isso não é coisa de homem? MARCELO - Isso não tem nada a ver, tia.TIA - Você tem que se portar como HOMEM!MARCELO - Para com isso, tia. Eu não gosto quando você começa com esse discurso.TIA - Pois eu vou continuar até você tirar esse brinco, esquecer aquela... aquela sua amizade com o Marcelo e se interessar por uma garota. Ouviu bem?
MARCELO – E eu... também não entendendo aquilo, não via a hora de encontrar Jonas. Eu simplesmente não me interessava por nenhuma das meninas. Sim, era amigo delas, muito amigos, mas o Jonas, não sei..tinha alguma coisa que...
RUBRICA – De volta a si, toca o celular.
MARCELO – Alô?Sim, é Marcelo sim.O que?A tia Aurora?Quando?RUBRICA - Despenca a comida toda no prato, despenca o garfo, despenca o prato no colo, despenca mesa, cadeira, despenca ele próprio, despencam ódios e apegos. Despenca aquela vontade de entender o que aquela mescla de ódio pela não aceitação de se ser simplesmente como se é e o apego por aquela mulher que foi a única que dele cuidou de verdade.
Mas isso, não importa mais.

sábado, 27 de junho de 2009

Carta aberta a Lara

Cara leitora e incentivadora,
muito queridas suas palavras na última semana.
Tenho a sensação de que sempre volto a escrever em momentos de adversidade(e aprendizado, por consequência) e seu apoio a minhas palavras me deixa muito feliz.
Queria saber mais de ti. Você também escreve?
Me escreva se sentir vontade.
Com carinho.

Quanto vale ou é por quilo?

Onde é o meio?Na metade?
Meio caminho andado...
Faz sua parte, que faço a minha.
Relação é uma via de mão dupla - e quando digo relação, é de qualquer natureza.
Parceria?!
Outro dia ouvi que estamos em tempos de parceria, relações e acões autosustentáveis.Trocas, permutas.
-Moço, me vê dois pãezinhos.
-Tá aqui.
-R$ 0,70.
Mas do que se trata a parceria?
Parceria:Reunião de pessoas por interesse comum.
Mas..será que meu interesse é o mesmo que o seu?Ele é comum?
Mas como mensurar a parceria?Em relações que envolvem o capital - como a do pãozinho acima - não carece o obrigado. A grana já faz esse papel.
Agora em tempos de parceria, o que estabelece a troca?Quanto vale....ou é por quilo? - aproveitando o excelente título do filme do Masagão
Eu, tenho por hábito a permuta - dou aulas de inglês, troco por massagem:ué?!minha aula custa R$ 70,00 e a massagem R$ 50,00...onde fica os R$20,00?Fica na parceria:meu conhecimento pelo seu. O que eu tenho para te dar e o que tem você. A única questão é que às vezes isso acontece em tempos diferentes. Você me dá hoje e eu posso te devolver só amanhã. Assumo esse risco, ou não?
Quando eu canto, o que espero dessa troca?
Tempos difíceis e contraditórios de se entender o capital.
Adoro jantar no francês:a troca lá é capital.
Adoro almoçar na Dri: a troca lá é muito mais do que capital.
Adoro cantar:será um dia também capital, hoje fica sendo sensacional.
Tudo que é meio termo dá trabalho.
Entender e aceitar o capital,
sem ser radical.

quinta-feira, 25 de junho de 2009

primo, do latim primu - primeiro, excelente

...fiquei triste, me culpei, pensei, remoi, chorei, senti raiva, quis mandar para p......, mandei, achei as palavras daquele e-mail cruéis - não te reconheci naquelas palavras - aquele não era você! - fiquei duas noites sem dormir, me arrependi, compreendi, me senti julgada, falei com milhões de pessoas, elas acharam uma bobagem isso, fiquei com mais raiva, não veiculamos seu material em lugar nenhum - não achei certo, escrevi um texto no meu blog sobre isso, te liguei, ninguém atendeu, deixei o terceiro recado, te julguei por não me atender, te achei um magoado em excesso, pensei que a gente nunca deve prometer nada para ninguém e sim se comprometer com as pessoas, falei com minha mãe, ela caiu do céu - foi sábia! pensei no poder que a mulher tem - para o bem e para o não tão bem - tentei criar milhões de idéias para me justificar e dizer que eu tentei remendar a falha de ter te esquecido catando o microfone depois e assumindo a gafe publicamente, mas você já tinha ido embora!- e pior!!você era o primeiro nome daquela porra daquela folhinha de agradecimentos.por que raios não li a droga do nome? - não consegui me responder até agora!!..ato falho?tavez.só sei que nada é por acaso.me dei conta que o mais importante é a gente se valorizar e não os outros.acredite em você por você mesmo e não dependa de ninguém.aprendi uma lição.....sabe que os metadados até viraram música?...acho que é para isso que serve a arte...para dar conta das merdas que o ser humano faz e transformar em nobreza...pensei em mil frases incríveis para te dizer....o saramago tem uma que diz que compaixão e compreensão é dar a volta pela situação e ver com os olhos dos outros - de quem tá do lado de lá...passei esses dias olhando para o que aconteceu com os seus olhos(ou pelo menos tentando!)...espero que possa dar a volta e olhar com os meus...ah tem outra frase incrível....o segredo da vida é ficarmos vulneráveis a vulnerabilidade do outro, afinal a expectativa é a sombra da frustração....às vezes dizer que as coisas custam R$ 1.000,00 parece muito mais prático, mas não é....como às vezes a gente complica, né?
...mas no fundo toda essa loucura de pensamentos e sentimentos é só para te pedir perdão - mas você não retornou nenhum dos meus recados - te julguei mas achei melhor compreender.queria olhar no teu olho - afinal foi assim que pedi para ser meu parceiro - olhando nos seus olhos! e te dizer isso:perdão pela minha falha! afinal, nada justifica eu ter esquecido de falar de você

terça-feira, 23 de junho de 2009

sobre a falibilidade humana

culpa.ego.condenação.reconhecimento.erro.mágoa

Coisas intrinsicamente humanas e que vem sendo ao longo da humanidade.

Eu, cometi um erro.
Você, me julgou. Reagiu. Não me atendeu.
Prejulgou e falhou.
Coisas do capital, talvez. Coisas do ego. Coisas de achar que tu tens mais do que eu e assim,
quero tirar de ti.
Pena e compreensão se misturam nessa dança do ser humano.

Eu,
assumo, errei.

Para que valeu eu ter ficado puta e ter te achado um merda que nem para atender meu telefonema e mandar uma bosta de um e-mailzinho magoado?Vem, olha no meu olho e diz que tá puto comigo...foi assim que eu pedi para ser meu parceiro...olhando no olho!

Até parece essa uma historinha clichezinha de briga entre dois namorados....
pior que não é...é como aquela música do chico "você, você" que acham que é uma história de amor...essa falar de amor sim...mas do amor incondicional....do amor de ser humano para ser humano...

Essas palavras acima em breve se tornarão música...

Viva a arte que pega essas merdas que o ser humano faz e transforma em nobreza!

quinta-feira, 18 de junho de 2009

disciplina

..uma vez ouvi de uma pessoa que disciplina é consciência do processo...
...quanto mais consciência que tenho, menos consigo lidar com as coisas....rsrs

...fiquei feliz ao receber um poat de uma pessoa que gostou de uns dos meus textos...isso me reanima a escrever e mais ainda....me reanima perceber o quão importante é eu me disciplinar a escrever....pois afinal trata-se de saber o proque fazê-lo....

p.s.: isso não é uma promessa....

quinta-feira, 11 de junho de 2009

Sentindo o sentido da vida

...normalmente a gente fica pensando na vida....agora passei para a fase do sentindo na vida, que pode numa brincadeira se torna sentido na vida...e por aí vai....em breve será agindo na vida...e daí volta a ser pensando, sentindo,agindo e pensando novamente......

Aqueles que se identificam

Quem (não) sou eu

Achei que seria mais fácil dizer quem não sou do que quem sou mas tô vendo que não é tão simples assim...

O porque do "o que"

Vinha há algum tempo querendo criar um blog...não sabia ao certo onde queria chegar mas hoje me dei conta que o importante não é onde quero chegar com ele mas sim que com ele pretendo caminhar. Fiquei ponderando o que publicar, o como fazê-lo...ponderei inclusive todo o cuidado com o jogo entre as palavras e suas acentuações gráficas mas hoje também me dei conta que isso não importa. O que encontrarão aqui? Sentimentos e palavras - textos que hoje são ficcionais e que foram talvez um dia auto-biográficos. Sejam todos muito bem vindos!